Este é o lugar onde dúvidas se formam e certezas se dissipam. Na cosmogonia dos weblogs um lugar situado entre o cepticismo e a certeza de que há um futuro a cumprir
sábado, abril 29, 2006
Além das cortinas...
"
Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Deixei a fatia
Mais doce da vida
Na mesa dos homens
De vida vazia
Mas, vida, ali
Quem sabe eu fui feliz
Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Verti minha vida
Nos cantos, na pia
Na casa dos homens
De vida vadia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz
Luz, quero luz,
Sei que além das cortinas
São palcos azuis
E infinitas cortinas
Com palcos atrás
Arranca, vida
Estufa, veia
E pulsa, pulsa, pulsa,
Pulsa, pulsa mais
Mais, quero mais
Nem que todos os barcos
Recolham ao cais
Que os faróis da costeira
Me lancem sinais
Arranca, vida
Estufa, vela
Me leva, leva longe
Longe, leva mais
Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Toquei na ferida
Nos nervos, nos fios
Nos olhos dos homens
De olhos sombrios
Mas, vida, ali
Eu sei que fui feliz"
Chico Buarque
sexta-feira, abril 28, 2006
Quero...
Quero...
Não ser só um homem
Que ara a terra e nada mais.
Perde tempo a chorar, vive calado
E morre sózinho a lamentar
Quero,
Sêr o vento que rasga as velas
E o mar que empurra os barcos
Uma rajada de amor
Trespassando o coração.
Sêr mais, sêr muito mais...
Sêr o filho que pare os pais
A tempestade que o medo traz.
A primeira palavra de paz
Que o vento traz
No final d’uma guerra.
terça-feira, abril 25, 2006
Morte a crédito
Que estranha morte a crédito
Tenho para te entregar...
Já há muito a guardava
no meio d'outras mortes
à espera de encomenda
Neste negócio da morte
escolheste-a a crédito:
Paga-se Melhor!
Será entregue sempre a tempo
e em doses bem pequenas
Em encomendas desta ordem
Não espera o cliente.
Consome-a como queiras.
Chama-lhe vida.
Guarda-a quente e meiga
nas mãos inchadas e fáceis
Como uma chávena de café
Esperando o momento ideal
Pagarás até ao fim.
Nas prestações escolhidas: Muitas
Com juros assim, assim.
Mas pagarás.
Que aqui não vivem débitos.
Nem de morte. Mesmo a crédito.
sábado, abril 22, 2006
That's entertainment
Police car with a screaming siren
Pneumatic drill on ripped-up concrete
Baby wails, a stray dog howling
Brakes screech as lamp light blinking
That's Entertainment
Smash of glass and a rumble of boots
Electric train and a ripped up phone booth
A hot day and a sticky black tarmac
A hot day and I'm wishing I was far away
That's Entertainment
Days of speed and a slow time Mondays
Wake up at 6 AM and think about your holidays
Open window and breathe in petrol
Cold flat with damp on the walls
Yes, That's Entertainment
Two lovers kissing over screams of midnight
Two lovers miss the tranquility of solitude
Read grafitti of slash-seat affairs
Splattered walls and a kick in the balls
Is all that you get - in the name of entertainment
Paul Weller
sexta-feira, abril 21, 2006
Bom Dia.
Bom dia. Diz-me um guarda.
Eu não ouço.... apenas olho
Das chaves o grande molho
Parindo um riso na farda.
Vómito insuportável de ironia
Bom dia, porque bom dia?
Olhe, senhor guarda
(no fundo a minha bocaa rugia)
aqui é noite, ninguem mora,
deite esse bom dia lá fora
Porque lá fora é que é dia.
Luís Veiga-Leitão
quarta-feira, abril 19, 2006
Fraqueza
Vão dizer aos exércitos do norte,
Que lutaram bravamente
Os homens da nossa cidade,
Que inda lutam, sempre.
Que morrem: Com eles a esperança.
Vão dizer aos exércitos do norte,
Que nas ruas da cidade se passa fome.
Há vários dias que nem um rato se come.
E a fraqueza cresce, não dá quartel.
Vão dizer aos exércitos do norte
Que foge o tempo e a força é pouca
Se não chegam breve os soldados
É a rendição ou a morte.
No ar Amor
No Quarto andar d'um vasto edifício
Escolheram viver a véus abertos
Marcar orgasmo: Momento veloz, único.
Em breve instante entrelaçados
Mais tarde amaram-se: Acabou num grito
No ar o suster de sonhos, de morte veloz.
- No ar Amor!
Por fim libertaram-se.
Voaram juntos num abraço dúbio e solitário
Passando nuvens mais distantes
Desaparecerendo em céus contrários
Eu Sou o Homem
Sou feliz por ter nascido
no tempo dos homens-rãs
que descem ao mar perdido
na doçura das manhãs.
Mergulham, imponderáveis,
por entre as águas tranquilas,
enquanto singram, em filas,
peixinhos de cores amáveis.
Vão e vêm, serpenteiam,
em compassos de ballet.
Seus lentos gestos penteiam
madeixas que ninguém vê.
Com barbatanas calçadas
e pulmões a tiracolo,
roçam-se os homens no solo
sob um céu de águas paradas.
Sob o luminoso feixe
correm de um lado para outro,
montam no lombo de um peixe
como no dorso de um potro.
Onde as sereias de espuma?
Tritões escorrendo babugem?
E os monstros cor de ferrugem
rolando trovões na bruma?
Eu sou o homem. O Homem.
Desço ao mar e subo ao céu.
Não há temores que me domem
É tudo meu, tudo meu.
Poema do Homem-Rã - António Gedeão
terça-feira, abril 18, 2006
Conselhos que o meu pai nunca me deu.
Yet here, Laertes! aboard, aboard, for shame!
The wind sits in the shoulder of your sail,
And you are stay'd for. There; my blessing with thee!
And these few precepts in thy memory
See thou character. Give thy thoughts no tongue,
Nor any unproportioned thought his act.
Be thou familiar, but by no means vulgar.
Those friends thou hast, and their adoption tried,
Grapple them to thy soul with hoops of steel;
But do not dull thy palm with entertainment
Of each new-hatch'd, unfledged comrade.
Beware Of entrance to a quarrel, but being in,
Bear't that the opposed may beware of thee.
Give every man thy ear, but few thy voice;
Take each man's censure, but reserve thy judgment.
Costly thy habit as thy purse can buy,
But not express'd in fancy; rich, not gaudy;
For the apparel oft proclaims the man,
And they in France of the best rank and station
Are of a most select and generous chief in that.
Neither a borrower nor a lender be;
For loan oft loses both itself and friend,
And borrowing dulls the edge of husbandry.
This above all: to thine ownself be true,
And it must follow, as the night the day,
Thou canst not then be false to any man.
Farewell: my blessing season this in thee!
Apolonius to his son Laertes in " Hamlet" by William Shakespeare.
(Ainda aqui, Laertes? Para bordo! O vento se acha a tergo de tua vela; já te reclamam. Vai com a minha bênção, e grava na memória estes preceitos: Não dês língua aos teus próprios pensamentos, nem corpo aos que não forem convenientes. Sê lhano, mas evita abastardares-te. O amigo comprovado, prende-o firme no coração com vínculos de ferro, mas a mão não calejes com saudares a todo instante amigos novos. Foge de entrar em briga; mas, brigando, acaso, faze o competidor temer-te sempre. A todos, teu ouvido; a voz, a poucos; ouve opiniões, mas forma juízo próprio. Conforme a bolsa, assim tenhas a roupa: sem fantasia; rica, mas discreta, que o traje às vezes o homem denuncia. Nisso, principalmente, são pichosas as pessoas de classe e prol na França. Não emprestes nem peças emprestado; que emprestar é perder dinheiro e amigo, e o oposto embota o fio à economia. Mas, sobretudo, sê a ti próprio fiel; segue-se disso, como o dia à noite, que a ninguém poderás jamais ser falso. Adeus; que minha bênção tais conselhos faça frutificar.)
sexta-feira, abril 14, 2006
O revólver de trazer por casa
Querem fazer de mim o revólver de trazer por casa,
Fizeram já de mim o revólver de trazer por casa,
Aquele que toda a gente ,uma,duas vezes na vida,
Encosta por teatro a um ouvido
Que acaba por se fechar envergonhado.
Um bom revólver domesticado:
Algumas noções de pré-suicídio,mas não mais,
Que a vida está muito cara e a aventura
Nem sempre devolve o barco que lhe mandam.
Quem espera por mim não espera por mim
E talvez me encontre por um acaso distraído.
Mas no meu obsceno mostruário de gestos,
Guardo o mais obsceno
Para quando a ilusão se der...
Alexandre O'Neil
quinta-feira, abril 13, 2006
Memórias, Maio de 97.
Foi com um certo saudosismo que li o post em Estórias da Joana que me fez relembrar os tempos (ah que belos tempos!) em que que tambem eu incrementava o meu soldo dando explicações no nobre campo das matemáticas
Tudo isso se passou bem antes de entender que enquanto indíviduos nos levamos demasiado a sério, mas divago um pouco.
Recordo-me com ternura (e não só) dos vários explicandos que tive: desde o João que não estudava aos gémeos no último ano de gestão com "Matemática I" ainda por fazer e a atravancar-lhes o diploma.
Mas é em particular da Diana que me recordo melhor, como poderia esquecer seus seios fartos e aquela propensão natural para corar e olhar-me bem nos olhos como que a dizer: "deixa-te lá de matemáticas que não é nisso que estou interessada". No entanto, vítima de um profissionalismo que me sempre me amaldiçoou, mantive-me fiel às matemáticas nunca cruzei tal fronteira. Pelo menos enquanto ela foi minha explicanda, salvo seja.
quarta-feira, abril 12, 2006
O Ódio
O ódio está em todo o lado.
Está nas ruas, nas casas, nas mentes.
Está na TV.
O ódio nasce bem fundo,
rasteja, trepa e ensidia-se,
vive como se sempre tivesse existido
O ódio é mentiroso, diz-nos que é irmão do Amor mas mente.
Tem familia e amigos: A raiva, a mentira e a ignorancia. O seu pai é o medo.
Não é constructivo, é violento.
É a ferramenta dos nossos líders
Vende-se ao desbarato
Está sempre disponível
O odio é o meu tormento.
O ódio vai saír caro
vai surgir e magoar
vai manchar e espezinhar
Ninguem vai ganhar.
Outras Memórias
I was born in the Year 1632, in the City of York, of a good Family, tho' not of that Country, my Father being a Foreigner of Bremen, who settled first at Hull: He got a good Estate by Merchandise, and leaving off his Trade, lived afterward at York, from whence he had married my Mother, Relations were named Robinson, a very good Family at Country, and from whom I was called Robinson Keutznaer; but by the usual Corruption of Words in England, we are now called, nay we call our Selves, and writer Name Crusoe, and so my Companions always call'd me.
terça-feira, abril 11, 2006
The Memories are here for the taking
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