segunda-feira, setembro 18, 2006

Feliz

"um dia depois, casaram. Ela comprou uma canoa laranja com que davam grandes passeios no mar azul. Diante das faces ardentes do sol e do mar.
Todos os dias decidiam separar-se e todos os dias se viciavam cada vêz mais um no outro.
Começou então a vêr claro: tinha esperado longamente pelo amor de uma mulher, mas e se não fosse feito para o amor?
Por fim, comovido com a sua mútua alegria, compreendeu finalmente que tinha nascido para se encontrar e que só assim poderia conceber as suas vidas de maneira feliz"

Um texto menos conhecido de Saul Itair Wolf.

sexta-feira, agosto 04, 2006

Sem medo


Há um estreito
de melancolia
por entre as brumas
do teu olhar

Há um choro
mal contido
Nos teus lábios
de vinho
tremendo

E Há uma poesia
não dita
no chão pousada
Sem vento
e sem medo

segunda-feira, julho 24, 2006

A leveza da morte


Estou marcado e cansado
Homem velho inesperado
doente, enfermo, acusado
saio à noite encapuçado

Sombra velada cai
ameaça crua, inusitada
obituário seco e escrevinhado
Mão negra em ombro desmanchado

Da esperança quase nada
A fé em poço fundo
caida, ferida e magoada
E frio, muito frio
Dentes rangendo sem fio
Memórias vagas
d’outros dias melhores
E a leveza da morte chegando.

sexta-feira, julho 07, 2006

Revolta


Primeiro insurgiu-se o pobre.
Maltrapilho e vetusto,
cajado muleta na mão.

Depois apareceu a morte,
Cheia de sede e ambições tortas .
No ar um cheiro podre
a ratos e crianças mortas.

E os esgotos da cidade
Vomitam nas ruas
A violencia da noite em aviso.
No topo da torre norte
Ensígnias da morte
Dancam gestos macabros .

Na margem direita do rio
Seguros e calculistas
Os ricos nem um pio.
Na esquerda a revolta surgiu
(eu estava lá!)
Surge na água um archote
-Era o sinal!
Na noite a verdade
No ar a esperança:
-Luz e liberdade.

sexta-feira, junho 30, 2006

Agosto


Foi numa tarde de Agosto
Que Em frente ao tivoli
Ao virar uma esquina te vi.
Branca e esmaecida, de olhos cinzentos
Flôr murcha na palma da mão.

Esperavas alguem.
Olhos no relógio de pulso
(aquele que eu te dei)
E mão direita plantada na anca
Com ar insubordinado.
No semblante a sombra
Das horas da desilusão.

Segui em frente sem parar,
Sorriso nos lábios
Ramo de rosas na mão
Expressão alegre e bem vestida.
Certa magia no meu olhar.

quinta-feira, maio 25, 2006

quinta-feira, maio 11, 2006

Vivo?



Vivo?
Pergunto-me por vezes.
Sim, duma casa de pescador
nas ilhas Hébridas
onde escrevo esta história,
face a este mar gelado
Pergunto-me se não estarei
tambem eu morto...
Ou então é o mundo que está morto para mim
Porque me tornei demasiado
velho para ele
Eu, Jeferson B. Pritchard
Que fiz todos os meus amigos morrer
Por uma razão que não chego
verdadeiramente a recordar-me”

(Enki Bilal)

quarta-feira, maio 10, 2006

Longinquos céus.


Vi o João ontem, sabes?
Com o seu ar refreado
Com a sua vontade única
de sair voando por aí.
Vi-o com estes olhos
que tantas vezes o viram,
que tantas vezes lhe perguntaram
para onde voava.
Ao que ele respondia:- Por aí!...

Desta vez, porém,
não sei bem porquê,
senti que o “por aí”
se havia tornado
num “ para aí”.
Com destino,
com verdade.
Com vontade...
Com liberdade de procurar
em longinquos céus lilázes
amores fortes e vorazes
Como um pássaro recortado no sol
Vogando onde o horizonte acaba.

Estou de Volta


Olá amigos, estou de volta, após umas merecidas férias na ilha de Corfu.
Porei várias fotografias aqui.

sábado, abril 29, 2006

Além das cortinas...


"
Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Deixei a fatia
Mais doce da vida
Na mesa dos homens
De vida vazia
Mas, vida, ali
Quem sabe eu fui feliz

Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Verti minha vida
Nos cantos, na pia
Na casa dos homens
De vida vadia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz

Luz, quero luz,
Sei que além das cortinas
São palcos azuis
E infinitas cortinas
Com palcos atrás
Arranca, vida
Estufa, veia
E pulsa, pulsa, pulsa,
Pulsa, pulsa mais

Mais, quero mais
Nem que todos os barcos
Recolham ao cais
Que os faróis da costeira
Me lancem sinais
Arranca, vida
Estufa, vela
Me leva, leva longe
Longe, leva mais

Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Toquei na ferida
Nos nervos, nos fios
Nos olhos dos homens
De olhos sombrios
Mas, vida, ali
Eu sei que fui feliz"

Chico Buarque

sexta-feira, abril 28, 2006

Quero...



Quero...
Não ser só um homem
Que ara a terra e nada mais.
Perde tempo a chorar, vive calado
E morre sózinho a lamentar

Quero,
Sêr o vento que rasga as velas
E o mar que empurra os barcos
Uma rajada de amor
Trespassando o coração.

Sêr mais, sêr muito mais...
Sêr o filho que pare os pais
A tempestade que o medo traz.
A primeira palavra de paz
Que o vento traz
No final d’uma guerra.

terça-feira, abril 25, 2006

Morte a crédito


Que estranha morte a crédito
Tenho para te entregar...

Já há muito a guardava
no meio d'outras mortes
à espera de encomenda
Neste negócio da morte
escolheste-a a crédito:
Paga-se Melhor!

Será entregue sempre a tempo
e em doses bem pequenas
Em encomendas desta ordem
Não espera o cliente.

Consome-a como queiras.
Chama-lhe vida.
Guarda-a quente e meiga
nas mãos inchadas e fáceis
Como uma chávena de café
Esperando o momento ideal

Pagarás até ao fim.
Nas prestações escolhidas: Muitas
Com juros assim, assim.
Mas pagarás.
Que aqui não vivem débitos.
Nem de morte. Mesmo a crédito.

sábado, abril 22, 2006

That's entertainment



Police car with a screaming siren
Pneumatic drill on ripped-up concrete
Baby wails, a stray dog howling
Brakes screech as lamp light blinking

That's Entertainment

Smash of glass and a rumble of boots
Electric train and a ripped up phone booth
A hot day and a sticky black tarmac
A hot day and I'm wishing I was far away

That's Entertainment

Days of speed and a slow time Mondays
Wake up at 6 AM and think about your holidays
Open window and breathe in petrol
Cold flat with damp on the walls

Yes, That's Entertainment

Two lovers kissing over screams of midnight
Two lovers miss the tranquility of solitude
Read grafitti of slash-seat affairs
Splattered walls and a kick in the balls

Is all that you get - in the name of entertainment

Paul Weller

sexta-feira, abril 21, 2006

Bom Dia.


Bom dia. Diz-me um guarda.
Eu não ouço.... apenas olho
Das chaves o grande molho
Parindo um riso na farda.
Vómito insuportável de ironia
Bom dia, porque bom dia?

Olhe, senhor guarda
(no fundo a minha bocaa rugia)
aqui é noite, ninguem mora,
deite esse bom dia lá fora
Porque lá fora é que é dia.

Luís Veiga-Leitão

quarta-feira, abril 19, 2006

Fraqueza



Vão dizer aos exércitos do norte,
Que lutaram bravamente
Os homens da nossa cidade,
Que inda lutam, sempre.
Que morrem: Com eles a esperança.

Vão dizer aos exércitos do norte,
Que nas ruas da cidade se passa fome.
Há vários dias que nem um rato se come.
E a fraqueza cresce, não dá quartel.

Vão dizer aos exércitos do norte
Que foge o tempo e a força é pouca
Se não chegam breve os soldados
É a rendição ou a morte.

No ar Amor


No Quarto andar d'um vasto edifício
Escolheram viver a véus abertos
Marcar orgasmo: Momento veloz, único.
Em breve instante entrelaçados

Mais tarde amaram-se: Acabou num grito
No ar o suster de sonhos, de morte veloz.
- No ar Amor!

Por fim libertaram-se.
Voaram juntos num abraço dúbio e solitário
Passando nuvens mais distantes
Desaparecerendo em céus contrários

Eu Sou o Homem



Sou feliz por ter nascido
no tempo dos homens-rãs
que descem ao mar perdido
na doçura das manhãs.

Mergulham, imponderáveis,
por entre as águas tranquilas,
enquanto singram, em filas,
peixinhos de cores amáveis.


Vão e vêm, serpenteiam,
em compassos de ballet.
Seus lentos gestos penteiam
madeixas que ninguém vê.

Com barbatanas calçadas
e pulmões a tiracolo,
roçam-se os homens no solo
sob um céu de águas paradas.

Sob o luminoso feixe
correm de um lado para outro,
montam no lombo de um peixe
como no dorso de um potro.

Onde as sereias de espuma?
Tritões escorrendo babugem?
E os monstros cor de ferrugem
rolando trovões na bruma?

Eu sou o homem. O Homem.
Desço ao mar e subo ao céu.
Não há temores que me domem
É tudo meu, tudo meu.

Poema do Homem-Rã - António Gedeão

terça-feira, abril 18, 2006

Conselhos que o meu pai nunca me deu.


Yet here, Laertes! aboard, aboard, for shame!
The wind sits in the shoulder of your sail,
And you are stay'd for. There; my blessing with thee!

And these few precepts in thy memory
See thou character. Give thy thoughts no tongue,
Nor any unproportioned thought his act.
Be thou familiar, but by no means vulgar.
Those friends thou hast, and their adoption tried,
Grapple them to thy soul with hoops of steel;
But do not dull thy palm with entertainment
Of each new-hatch'd, unfledged comrade.
Beware Of entrance to a quarrel, but being in,
Bear't that the opposed may beware of thee.
Give every man thy ear, but few thy voice;
Take each man's censure, but reserve thy judgment.
Costly thy habit as thy purse can buy,
But not express'd in fancy; rich, not gaudy;
For the apparel oft proclaims the man,
And they in France of the best rank and station
Are of a most select and generous chief in that.
Neither a borrower nor a lender be;
For loan oft loses both itself and friend,
And borrowing dulls the edge of husbandry.

This above all: to thine ownself be true,
And it must follow, as the night the day,
Thou canst not then be false to any man.
Farewell: my blessing season this in thee!


Apolonius to his son Laertes in " Hamlet" by William Shakespeare.

(Ainda aqui, Laertes? Para bordo! O vento se acha a tergo de tua vela; já te reclamam. Vai com a minha bênção, e grava na memória estes preceitos: Não dês língua aos teus próprios pensamentos, nem corpo aos que não forem convenientes. Sê lhano, mas evita abastardares-te. O amigo comprovado, prende-o firme no coração com vínculos de ferro, mas a mão não calejes com saudares a todo instante amigos novos. Foge de entrar em briga; mas, brigando, acaso, faze o competidor temer-te sempre. A todos, teu ouvido; a voz, a poucos; ouve opiniões, mas forma juízo próprio. Conforme a bolsa, assim tenhas a roupa: sem fantasia; rica, mas discreta, que o traje às vezes o homem denuncia. Nisso, principalmente, são pichosas as pessoas de classe e prol na França. Não emprestes nem peças emprestado; que emprestar é perder dinheiro e amigo, e o oposto embota o fio à economia. Mas, sobretudo, sê a ti próprio fiel; segue-se disso, como o dia à noite, que a ninguém poderás jamais ser falso. Adeus; que minha bênção tais conselhos faça frutificar.)

sexta-feira, abril 14, 2006

O revólver de trazer por casa


Querem fazer de mim o revólver de trazer por casa,
Fizeram já de mim o revólver de trazer por casa,
Aquele que toda a gente ,uma,duas vezes na vida,
Encosta por teatro a um ouvido
Que acaba por se fechar envergonhado.

Um bom revólver domesticado:
Algumas noções de pré-suicídio,mas não mais,
Que a vida está muito cara e a aventura
Nem sempre devolve o barco que lhe mandam.

Quem espera por mim não espera por mim
E talvez me encontre por um acaso distraído.
Mas no meu obsceno mostruário de gestos,
Guardo o mais obsceno
Para quando a ilusão se der...

Alexandre O'Neil

quinta-feira, abril 13, 2006

Memórias, Maio de 97.


Foi com um certo saudosismo que li o post em Estórias da Joana que me fez relembrar os tempos (ah que belos tempos!) em que que tambem eu incrementava o meu soldo dando explicações no nobre campo das matemáticas
Tudo isso se passou bem antes de entender que enquanto indíviduos nos levamos demasiado a sério, mas divago um pouco.
Recordo-me com ternura (e não só) dos vários explicandos que tive: desde o João que não estudava aos gémeos no último ano de gestão com "Matemática I" ainda por fazer e a atravancar-lhes o diploma.
Mas é em particular da Diana que me recordo melhor, como poderia esquecer seus seios fartos e aquela propensão natural para corar e olhar-me bem nos olhos como que a dizer: "deixa-te lá de matemáticas que não é nisso que estou interessada". No entanto, vítima de um profissionalismo que me sempre me amaldiçoou, mantive-me fiel às matemáticas nunca cruzei tal fronteira. Pelo menos enquanto ela foi minha explicanda, salvo seja.

quarta-feira, abril 12, 2006

O Ódio


O ódio está em todo o lado.
Está nas ruas, nas casas, nas mentes.
Está na TV.
O ódio nasce bem fundo,
rasteja, trepa e ensidia-se,
vive como se sempre tivesse existido
O ódio é mentiroso, diz-nos que é irmão do Amor mas mente.
Tem familia e amigos: A raiva, a mentira e a ignorancia. O seu pai é o medo.

Não é constructivo, é violento.
É a ferramenta dos nossos líders
Vende-se ao desbarato
Está sempre disponível
O odio é o meu tormento.

O ódio vai saír caro
vai surgir e magoar
vai manchar e espezinhar
Ninguem vai ganhar.

Outras Memórias




I was born in the Year 1632, in the City of York, of a good Family, tho' not of that Country, my Father being a Foreigner of Bremen, who settled first at Hull: He got a good Estate by Merchandise, and leaving off his Trade, lived afterward at York, from whence he had married my Mother, Relations were named Robinson, a very good Family at Country, and from whom I was called Robinson Keutznaer; but by the usual Corruption of Words in England, we are now called, nay we call our Selves, and writer Name Crusoe, and so my Companions always call'd me.

terça-feira, abril 11, 2006

The Memories are here for the taking


Promenade du Feu:
este é o lugar onde dúvidas se formam e certezas se dissipam. Na cosmogonia dos weblogs um lugar situado entre o cepticismo e a certeza de que há um futuro a cumprir.